Impasse sobre BRT gera nova briga política entre prefeitura e governo

10/09/2015 - Tribuna da Bahia

O prefeito ACM Neto (DEM) anunciou o projeto do BRT (Bus Rapid Transit) no início da sua gestão, em 2013, e seu objetivo era entregar a via expressa ligando a Estação da Lapa à Ligação Iguatemi Paralela (LIP) no primeiro semestre de 2016, a poucos meses da eleição municipal. No entanto, aquilo que poderia ser o carro-chefe da administração do democrata está se tornando motivo de novo embate político.

Primeiro, porque o BRT com aproximadamente nove quilômetros de extensão tem um custo previsto de R$820 milhões, acrescidos aí a contrapartida da prefeitura e que deve elevar o orçamento para pouco mais de R$1 bilhão. Do total previsto, R$520 milhões foram solicitados à Caixa Econômica Federal (CEF) como empréstimo e R$ 300 milhões deveriam vir através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Mobilidade, ou seja, do governo federal. É esse o segundo ponto que tira o sono do prefeito ACM Neto.

Com o Palácio do Planalto fazendo corte de gastos e elevando impostos para tentar contornar os impactos da crise econômica que atinge o país, os recursos para as obras podem não ser liberados tão cedo. Neto chegou a afirmar no início dessa semana que já perdeu as expectativas de ver o BRT funcionando por tão cedo e disparou: "Ficou claro que o problema todo é do governo federal”. Como o governo federal é liderado pelo PT, adversário político do prefeito ACM Neto, uma das principais lideranças da oposição no DEM, as queixas também se dão no plano do jogo de interesse político-eleitoral.

Petistas ironizam o projeto do prefeito e dizem que o BRT está muito caro. Fazendo um comparativo, o equipamento soteropolitano tem praticamente a mesma distância, de nove quilômetros, do que foi iniciado recentemente em Feira de Santana. Lá, o orçamento total foi de R$87 milhões, enquanto em Salvador passará da casa de um bilhão. "A prefeitura fez a sua parte. O início da construção do BRT não tem prazo nem previsão. Agora, o que podemos fazer? Nada, apenas lamentar. Principalmente porque se tratou de um compromisso público da presidente da República, que faz parte de um acordo firmado em 2013, quando a prefeitura transferiu o metrô para o governo estadual”, explicou.

Quando prometeu o aporte financeiro, a presidente Dilma classificou o prefeito da capital como grande parceiro dos governos estadual e federal. A partir de então, o prefeito tem peregrinado por Brasília no intuito de conseguir a liberação dos recursos, mas trâmites burocráticos, principalmente no Ministério das Cidades, comandado pelo presidente do PSD nacional, Gilberto Kassab, têm ameaçado o projeto.

A questão se acirra no plano da política porque o governo Rui Costa também tem o projeto de implantação do VLT (Veículo Leve Sobre Trilho) que pretende ligar o bairro de Paripe, no Subúrbio de Salvador, ao terminal da França, no Comércio, substituindo o atual trem que parte da Calçada rumo aos bairros suburbanos. Em julho, surgiu a informação de que Dilma viria a Salvador lançar o edital de construção do equipamento orçado em R$ 1,1 bilhão. Embora isso não tenha se concretizado, acendeu a luz de alerta no Palácio Thomé de Souza, pois o projeto do BRT havia sido apresentado antes do VLT e esse, por ser de autoria do governo do estado, estaria com mais chances de se concretizar do que o ligado ao prefeito ACM Neto.

O governador Rui Costa (PT) sai em defesa do governo Dilma nessa questão e atribui a demora à crise que o Planalto enfrenta. Apesar dos problemas, o mesmo governo petista tem liberado recursos para a construção de contenção de encostas na cidade, por meio da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Urbano (Sedur), o que tem causado uma disputa política entre governo e prefeitura. As constantes visitas do governador aos bairros da capital autorizando ou inaugurando obras lhe rendeu o apelido de "goverfeito”, por serem ações que geralmente seriam feitas pelo prefeito.