Um ano após a Copa, Pernambuco tem 4 obras de mobilidade inacabadas

12/06/2015 - G1 PE

Vinte e seis quilômetros separam a casa de Ubiracy Antônio da Silva, em Abreu e Lima, no Grande Recife, do trabalho dele, no Barro, Zona Oeste da capital. No percurso, o operário de 46 anos enfrenta dois terminais integrados e três ônibus. É pelo menos uma hora e meia de viagem. Em 2009, ele achou que o trajeto ia melhorar. Na época, o Governo de Pernambuco anunciou um pacote de obras de mobilidade que prepararia a Região Metropolitana do Recife para a Copa do Mundo de 2014. Um ano depois do Mundial, no entanto, boa parte das obras anunciadas não ficou pronta. Por isso, Ubiracy ainda não pode usufruir do terminal ou das estações de BRT que seriam construídas perto de casa.

Os equipamentos fazem parte do Corredor Norte/Sul, que vai ligar cinco cidades do Grande Recife por meio do Bus Rapid Transit (BRT). A ideia é a mesma no Corredor Leste/Oeste, que sai de Camaragibe em direção ao Centro do Recife. Juntos, os corredores de BRT apresentavam-se como o principal legado da Copa do Mundo para a população pernambucana, já que prometiam facilitar o fluxo de passageiros entre as cidades de Igarassu, Abreu e Lima, Paulista, Olinda, Recife e Camaragibe. No entanto, passado um ano do torneio, parte dos corredores ainda está sem funcionar. A Via Mangue e o Ramal da Copa, igualmente previstos para 2014, também operam parcialmente. E os terminais integrados que compõem os corredores nem foram inaugurados.

Em Camaragibe, o atraso é o mais evidente. A cidade iria ganhar quatro estações de BRT do Corredor Leste/Oeste na sua avenida principal, a Belmino Correia. No entanto, nenhuma delas foi construída. Os operários chegaram a montar as bases das estações, mas pararam de trabalhar. Agora, um ano depois da Copa, não se sabe quando o serviço será retomado. O Governo de Pernambuco admite que não há previsão e, por meio da Secretaria das Cidades, explica que a obra foi suspensa por questões contratuais. Por isso, oito das 24 estações previstas para o Corredor Leste/Oeste ainda não recebem passageiros. Dessas, quatro continuam em construção na Rua Benfica e na Avenida Conde da Boa Vista, no Recife. As outras quatro são as que ainda serão erguidas na Belmino Correia.

Sem as estações prontas, a principal avenida de Camaragibe não suporta o embarque nem o desembarque de passageiros nos veículos BRT. Os ônibus rápidos saem do TI da cidade e passam pela via, mas não encontram um local apropriado para a parada. Por isso, só voltam a receber usuários na Caxangá. "A gente só olha eles passando, sem poder pegar", lamenta o vigilante Bartolomeu Bernardo, 58, enquanto espera o ônibus em uma parada que deveria ser uma estação de BRT na Belmino Correia. "Começaram a fazer e pararam. Por isso, a gente continua aqui, esperando quase uma hora por um ônibus lotado", reclama, explicando que, para usar o BRT, precisa antes pegar um ônibus para o Terminal Integrado da cidade.

A técnica em enfermagem Elcineide Gomes, 48, sabe muito bem como é a manobra. Ela mora em Camaragibe e trabalha no Centro do Recife. É o mesmo caminho previsto pelo Corredor Leste/Oeste. No entanto, nem a estação da esquina de casa nem a mais próxima do trabalho de Elcilene estão prontas. Para fazer o trajeto com o BRT, que é mais rápido que o ônibus comum por desfrutar de uma via exclusiva, ela caminha por cerca de dez minutos de casa para o TI Camaragibe. No terminal, pega o BRT até o Derby e, de lá, apanha outro ônibus para chegar à Avenida Conde da Boa Vista. "Se tudo estivesse pronto, ia ser mais rápido e mais barato. Com uma única passagem, ia da rua de casa até a do trabalho", diz a técnica em enfermagem, que sai de casa às 5h para chegar ao trabalho às 7h.

Futuro usuário do Corredor Norte/Sul, Ubiracy Antônio também sai de casa cedo, já que ainda não pode usufruir das estações de BRT nem do Terminal Integrado de Abreu e Lima. Na volta do trabalho, perde ainda mais tempo no trânsito. Sai às 17h30 do Barro, mas só chega em casa depois das 20h. O BRT poderia ajudar bastante, mas o governo anuncia uma coisa e não termina. É um absurdo, começaram isso há muito tempo, já era para ter terminado, diz, revoltado.

Segundo a Secretaria das Cidades de Pernambuco, o restante do Corredor Norte/Sul vai entrar em operação até o fim de julho, mais de um ano depois da Copa. Hoje, 19 das 25 estações de BRT que vão compor o equipamento estão funcionando. Das seis em construção, três serão entregues ainda este mês: as duas da BR-101, em Paulista e Igarassu; e a da PE-15, em Olinda. Em julho, serão inauguradas as estações da Avenida Pan Nordestina, em Olinda, e as duas da Avenida Cruz Cabugá, no Recife. Também no próximo mês, deve ser aberto o TI de Abreu e Lima e a passarela de pedestres que vai ligá-lo à BR-101.

Orçado em R$ 187 milhões, o Corredor Norte/Sul atende atualmente 41 mil passageiros diariamente, conforme expectativa da Secretaria das Cidades. Quando estiver em pleno funcionamento, a demanda deve ser de 180 mil passageiros/dia.

Já no caso do Leste/Oeste não há prazo, de acordo com a Secretaria das Cidades, para que o corredor entre em completa operação. Ainda é preciso finalizar 20% da obra, contratada por R$ 168 milhões. Além das quatro estações inacabadas no Recife e as quatro que continuam sem previsão de início de construção em Camaragibe, também não foram inaugurados dois terminais integrados previstos no projeto. Os TIs ficam nas 3ª e 4ª perimetrais e parecem prontos, mas permanecem de portas fechadas. A previsão é que o Leste/Oeste transporte 155 mil passageiros/dia quando todas as estações forem entregues.

Outras obras

Em Pernambuco, o atraso não ficou apenas nos corredores de BRT. Na verdade, afetou todas as obras de mobilidade prometidas pelo Governo do Estado para a Copa do Mundo de 2014. A passarela que liga o aeroporto ao Metrô do Recife, por exemplo, foi entregue a dois dias do início do Mundial, seis meses depois do previsto. No Terminal Integrado Cosme e Damião, localizado em São Lourenço da Mata, o atraso foi de um ano e meio. O Túnel da Abolição também não cumpriu o cronograma inicial, que acabava em janeiro de 2014, e só foi liberado em abril deste ano. E o Aeroporto Internacional do Recife ainda deixou de ganhar uma torre de controle. A obra foi abortada porque o Departamento de Controle de Espaço Aéreo (Decea) não conseguiu terminar o projeto a tempo. Agora, um ano depois do Mundial, o atraso continua no Ramal da Copa e na Via Mangue.

O Ramal da Copa é a estrutura viária que rodeia a Arena Pernambuco e faz sua ligação com o Terminal Integrado de Camaragibe. O Ramal Interno, que permite a circulação nos arredores do estádio, foi concluído um mês antes da Copa das Confederações, em junho de 2013. Já o Externo, que vai da Arena ao terminal de ônibus, beneficiando a população local, teve a obra paralisada. A construção atrasou por impasses na desapropriação de imóveis e por causa das chuvas. Depois, ainda esbarrou em problemas contratuais. Por isso, o ramal tem um quilômetro a menos que o previsto um trecho de asfalto desgastado, com acostamento tomado por terra e mato alto, nos arredores do TI de Camaragibe. Ao G1, a Secretaria das Cidades informou que está negociando com a empresa responsável pelo projeto a retomada do serviço. Mas, por enquanto, não há previsão para o reinício das obras.

A pasta também tenta um acordo com as empresas contratadas para a obra do Túnel da Abolição, na Zona Oeste do Recife. O equipamento foi inaugurado em abril deste ano, mas ainda precisa de acabamento. A praça prevista para a área externa do túnel também não foi finalizada. No entanto, segundo a Secretaria das Cidades, não há previsão para a retomada dos serviços.

Já a Via Mangue, que é de responsabilidade da Prefeitura do Recife, só deve ser concluída em dezembro deste ano. O empreendimento funciona do Centro à Zona Sul da capital pernambucana. No entanto, continua com a pista de sentido contrário fechada. A população não entende o motivo de ainda não poder fazer o caminho Zona Sul/Centro. O Executivo municipal explica que a pista está pronta, mas ainda precisa de calçamento e de três vias de acesso. O equipamento também deve receber ciclovia e uma alça. Quando finalizado, terá seis pontos de acesso, nas ruas Maria Carolina, Tenente João Cícero, Padre Bernardino Pessoa, Professor Eduardo Wanderley Filho, Henrique Capitulino e Tomé Gibson.

A prefeitura ainda explicou que a Via Mangue não foi concluída no prazo previsto inicialmente por causa de um atraso na liberação do convênio celebrado com a Caixa Econômica Federal no valor de R$ 81 milhões. Mesmo assim, segundo o Executivo, falta concluir apenas 2% da obra. Hoje, operários trabalham para terminar tudo até dezembro, um ano depois do segundo prazo estabelecido para a obra.