Em Pernambuco, estações de BRT envelhecem antes de estarem prontas

12/04/2015 - Leia Já

Enquanto os corredores Norte-Sul e Leste-Oeste do sistema de Bus Rapid Transit (BRT) não são concluídos, as estruturas inacabadas começam a se desgastar. E a tendência é que a situação se agrave, visto que depois de atrasos e mais atrasos, a Secretaria das Cidades não consegue mais apontar uma data de conclusão.

Na Avenida Conde da Boa Vista, na área central do Recife, as estações, que inicialmente eram provisórias pois possuem menos recursos que as demais e que serão permanentes, são as que apresentam os maiores traços de esquecimento: com grandes pichações, sujeira e estrutura com sinais de ferrugem. A estação que fica em frente à Faculdade Fafire, por exemplo, virou casa para morador de rua. Uma cama está instalada no local, além de restos de "quentinhas" e muitas mangas podres espalhadas.

Trabalhadores do entorno das estações da Boa Vista relatam que desde dezembro as obras estão paralisadas. "Usaram nosso dinheiro para levantar isso aí [parte da estrutura] e deixaram para lá", reclama o vendedor Vanildo Barbosa Dias, de 64 anos.

Enquanto as estações de BRT da avenida não ficam prontas, os usuários do transporte público têm que se acostumar com as paradas provisórias. É que para construir os pontos de BRT foi preciso retirar algumas paradas ali instaladas e ampliar as restantes com uma parada de estrutura mais humilde. A professora Maria das Graças, de 61 anos, pega ônibus em uma dessas e lamenta não poder utilizar o BRT. "A situação está péssima. A gente tem que enfrentar chuva, sol forte...", lamenta.

O projeto inicial continua sofrendo alterações desde sua primeira apresentação, tanto que a resposta da Secretaria das Cidades sobre a quantidade total de estações ainda é tratada como previsão. O número previsto para o corredor Leste-Oeste, no qual a Avenida Conde da Boa Vista está inserida, é de 22 estações; já para o corredor Norte-Sul, a previsão é de 28. Atualmente os trechos estão com 13 e 11 estações em operação, respectivamente.

Na Avenida Caxangá, na zona Oeste da cidade, quase todas as estações já estão em funcionamento, com exceção da que ficará instalada em cima do elevado para BRT, que se encontra em estágio inicial de obra. As estações Forte do Arraial, no bairro do Cordeiro, e Abolição, na Madalena, estão com vidros depredados. Os terminais integrados da III Perimetral, próximo ao Hospital Getúlio Vargas, e da IV Perimetral, ao lado do viaduto da BR-101, também estão incompletos e com obras paradas.

Outra estação com obras paralisadas está localizada na Rua Benfica, que liga a Madalena ao bairro do Derby. Por conta disso, a linha 437 – TI Caxangá (Centro), de veículo comum, que funciona parcialmente expresso, está embarcando pessoas nas paradas de ônibus da Benfica e não só da Avenida Conde da Boa Vista, como foi programada.

Na PE-05, em Camaragibe, moradores da comunidade das Barreiras possuem uma estação em frente a suas casas, mas não têm muito o que comemorar. A Estação Barreiras é mais uma sem operar e fica localizada entre duas que funcionam, mas a uma distância longe o suficiente para os moradores não se arriscarem a ir a pé até uma delas. "Pois é, a gente tem uma estação na porta de casa e não pode usar", diz um usuário de ônibus na parada. "Vão nem ligar mais para isso porque já passou a Copa do Mundo", alfineta outra moradora.

Dos que utilizam o BRT do corredor Leste-Oeste, os camaragibenses parecem os mais insatisfeitos. Apesar do corredor ligar Camaragibe ao centro do Recife, após a PE-05 não há mais estações até o TI de Camaragibe, o que representa uma distância de aproximadamente 3,5 km sem paradas.

Para a Avenida Belmino Correia, em Camaragibe, eram previstas inicialmente cinco pontos de BRT. A Secretaria das Cidades esclareceu que, após dialogar com a Prefeitura de Camaragibe, concordou em revisar o projeto e instalar apenas quatro estações, visando minimizar o impacto das desapropriações que seriam necessárias. Não há sinais destas estações.

No corredor Norte-Sul as obras continuam, mas devagar e atrasadas. A reportagem do LeiaJá passou pela área e só viu trabalhadores em apenas uma das estações em obras. Uma outra estação em Paulista aparenta ter um futuro mais complicado maior, porque é conectada com uma passarela, que também está incompleta. "Essa obra trazia uma perspectiva de melhora, mas parou. Não vejo mais ninguém desde o período de eleição", lamenta o ator Adriano Cabral, 43, que pega ônibus nas proximidades.

Já não bastasse as obras incompletas, as que já foram concluídas apresentam algumas falhas que acabam revelando um processo mal feito, sem zelo. É o caso, por exemplo, das informações presentes dentro das estações, que possuem tradução para o inglês. Uma delas, que fica ao lado das portas automáticas avisa: "Antes de entrar no ônibus, verifique se as portas do mesmo encontram-se posicionadas corretamente". Logo abaixo, segue a frase em inglês: "Before boarding bus, make sure doors are fully opened", que significa "antes de embarcar no ônibus, certifique-se de que as portas estão completamente abertas". Enquanto o primeiro aviso pede que o usuário analise se as portas da estação estão alinhadas com a dos ônibus, visto que elas abrem automaticamente e não há a presença do cobrador para auxiliar o motorista do BRT, a mensagem em inglês faz um alerta óbvio o suficiente para não precisar ser feito.

A Construtora Mendes Júnior é responsável pela execução dessas obras, mas está em situação delicada desde que apareceu nas denúncias da Operação Lava Jato. A Secretaria das Cidades disse que advertiu formalmente a empresa para que retome as obras paradas.

Ainda segundo a secretaria, só será possível prever a data de conclusão do Corredor Leste-Oeste quando as obras voltarem em ritmo normal. Já o Corredor Norte-Sul – 26 estações, TI Abreu e Lima e três passarelas de pedestres -  tem previsão de conclusão para o final do primeiro semestre de 2015. As demais obras dependem "da remoção das interferências", segundo a resposta da secretaria.

O Grande Recife Consórcio de Transportes explicou que os vidros para substituir os que foram apedrejados na Avenida Caxangá já foram encomendados e estão vindo de São Paulo. O consórcio lembrou que o material é temperado e não se estilhaça, não oferecendo risco aos usuários.