Sistemas de transportes urbanos devem ser integrados

08/08/2008 - Tribuna do Norte - Bob Calazans

Os ônibus são a face mais conhecida do transporte público de Natal, porém não são a única e nem deveriam funcionar de forma isolada. Além da integração entre as várias linhas que compõem o sistema, também será preciso que o futuro prefeito de Natal consiga somá-las às demais opções de deslocamento da população, notadamente os trens e os opcionais, para facilitar o tráfego e a mobilidade na capital do Rio Grande do Norte e, por conseqüência, em toda a Região Metropolitana.

“Vai chegar um ponto no qual realmente o sistema de transportes por ônibus vai chegar ao seu limite e, se você não tiver opções, como vai ficar?”, questiona o chefe do Departamento de Estudos e Projetos da STTU, Flávio Nóbrega. Por isso mesmo, a integração entre ônibus, opcionais e trens urbanos (ou futuramente os chamados Veículos Leves sobre Trilhos – VLTs) é hoje um dos grandes objetivos da secretaria municipal.

Para isso, no entanto, mais uma vez será necessário rever as regras do sistema, o que passa inclusive pela nova licitação das linhas de ônibus, já que hoje o funcionamento das três principais alternativas de transporte geram mais uma disputa, do que uma união. A secretária adjunta de Transportes da STTU, Lúcia Rejane, afirma que medidas em prol da integração já vem sendo tomadas. “A própria portaria sobre bilhetagem eletrônica foi publicada prevendo a interoperabilidade dos sistemas. Infelizmente, houve um procedimento na Justiça (no qual os empresários de ônibus conseguiram o direito a criarem e operarem um sistema exclusivo).”

O ideal para os gestores do transporte público é que, com uma única forma de pagamento, ainda que não necessariamente pelo mesmo valor, cada cidadão possa, por exemplo, sair de um ônibus, pegar um trem, descer e seguir o trajeto em um opcional, conseguindo assim acesso ágil a qualquer área da cidade. “Que sejam os veículos sobre trilhos, os trens, o que for, mas certamente vamos precisar de opções que desafoguem o trânsito da cidade e garantam o deslocamento da população”, resume Flávio Nóbrega.

Dirigente teme a estagnação do trânsito
Mais que uma possibilidade, a integração entre os vários sistemas de transportes em Natal tende a se tornar uma necessidade. O superintendente local da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), José Fernandes da Silva, defende que essa integração ocorra o mais breve possível, antes de a cidade estagnar por completo, devido aos congestionamentos de trânsito cada vez mais comuns e mais graves.

“Não dá para focar os transportes coletivos de Natal só no modal rodoviário, pois chegaremos a um ponto de estagnação. O ferroviário pode, sim, se tornar uma excelente solução. Os trens poderiam servir para atender os corredores estruturantes da cidade, enquanto ônibus e vans serviriam para deslocamentos nos demais trechos”, aponta. Para isso, a CBTU local vem lutando pela chegada do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), espécie de “bonde moderno”, mais adequado.

Enquanto não se consegue implementar essa proposta, contudo, os trens continuam sendo uma boa opção, inclusive para quem não consegue arcar com os preços das tarifas de ônibus e opcionais. “Esse valor que cobramos (R$ 0,50) é o que o trabalhador tem condições de pagar”, avalia, lembrando que as duas rotas atuais da CBTU, Sul e Norte, atendem áreas bastante adensadas da capital e municípios próximos. 

O superintendente também considera fundamental que o trabalho de integração dos sistemas de transporte envolva não só a Prefeitura de Natal, mas todas as cidades vizinhas. “A capital já atingiu um status de uma metrópole de porte médio. Muitos moradores dessas cidades se deslocam diariamente para cá”, reforça, lembrando que a CBTU tem participado das discussões a respeito do Plano Diretor de Transportes da Grande Natal.

Ele, porém, lamenta a queda de braço entre empresários de ônibus e poder público, registrada em Natal, e critica medidas que vêm segregando ainda mais os sistemas de transporte.

Ônibus e vans são eternos adversários
O sistema de transportes opcionais foi criado em 1997 para suprir as deficiências do sistema por ônibus. Contudo, até hoje, ao invés de complementares, os dois se mantém quase como adversários diretos. O mais recente “round” dessa luta ocorreu quando, no início deste ano, as empresas de ônibus começaram a instalar a bilhetagem eletrônica exclusiva.

“É preciso que o futuro prefeito assuma o controle dos transportes na cidade, porque hoje eles (empresários de ônibus) fazem o que querem. Implantaram um cartão único e ficou por isso”, reclama a presidente do Sindicatos dos Opcionais (Sitoparn), Maia Edileuza de Queiroz. Desde então, os permissionários dos alternativos vêm sofrendo com prejuízos, já que quem utiliza os cartões não pode mais fazer uso dos opcionais.

Essa, porém, não foi a única atitude que colocou frente-a-frente os dois sistemas nesses 11 anos de convivência forçada. “Muitas vezes, quando eles querem tirar as paradas da gente, é só mandar um ofício e tiram. Foi assim na Deodoro e em outros locais da cidade”, aponta a sindicalista, afirmando que os alternativos não são hoje concorrentes diretos dos ônibus. “Ainda assim, espero que a futura gestão consiga tomar o controle e melhorar o transporte público, pois ainda sonhamos com a integração dos sistemas”, diz.

Edileuza Queiroz, no entanto, também duvida que em 2010 as linhas de ônibus venham a passar por uma licitação. “Do jeito que está?”, questiona, referindo-se às repetidas vitórias do Sindicato das Empresas de Ônibus (Seturn) contra a Prefeitura, na Justiça.

Seturn é responsável pelas estações

Desde setembro do ano passado, quando foi assinado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), é o Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Passageiros do Município de Natal (Seturn) quem assume os custos com limpeza, iluminação e manutenção preventiva das estações.

De acordo com a superintendente do Seturn, Adriana Flor, cerca de 80 funcionários, entre agentes, auxiliares de limpeza, trabalham nas estações de transferências. “Fazemos a limpeza diária e a lavagem mensal das estações, pagamos a energia, substituição de peças roubadas, entre outras ações. O problema é que, como não tem policiamento no local, para evitar essas ações, estamos à mercê dos vândalos”, diz Adriana.

Apesar de não ter o valor gasto mensalmente com a manutenção das 11 estações, Adriana lamenta a falta de conscientização das pessoas. “Desde setembro estamos tentando manter em ordem as estações, mas é bem difícil devido às ações dos vândalos. A população reclama da estrutura, mas a culpa não é nossa, fazemos a nossa parte, mas alguns membros da sociedade não colaboram”, disse a superintendente.

Em cada estação de transferência passam em média 2.500 passageiros por dia, um número bastante alto e que já levou a STTU a pensar na ampliação de algumas estações. “Vamos ampliar as três estações mais movimentadas que são as do Terminal Rodoviário, do Bairro Latino e do Mirassol. Elas passarão de 18 para 30 metros”, explicou o chefe do Departamento de Estudos e Projetos da STTU, Flávio Nóbrega.

Questionado se a STTU tem planos de colocar outras estações, Flávio disse que pelo menos por enquanto não é necessário. “No momento essas 11 estações interligam toda Natal, às vezes os passageiros podem usar mais de uma, mas sempre pagando somente uma tarifa”, disse.

Estações de transferências enfrentam problemas

As estações de transferência são até hoje o exemplo mais prático do que se pode chamar de integração no sistema de transportes de Natal. Contudo, as 11 distribuídas pela cidade não deixam de sofrer problemas. Quem as utiliza já deve ter reparado que sempre está faltando alguma lâmpada, esquadrias de alumínio e vidros. Isso porque esses equipamentos são alvos fáceis de vândalos e ladrões, que atuam na madrugada, quando não há vigilância.

“Os vândalos costumam agir entre às 23h e cinco horas da manhã. Várias vezes eu cheguei aqui e me deparei com vidros quebrados, lâmpadas roubadas. Até as nossas cadeiras são roubadas, já levaram umas quatro dessa estação e olhe que fica fechada”, disse o agente de estação de transferência, Marcelo Roberto Souza Cavalcante, que trabalha na de nº 4, do Conjunto Mirassol.

Há cerca de cinco meses, a estação três (Bairro Latino), teve todas as treliças de alumínio (espécie de esquadria) roubadas. Sem essa proteção, os usuários ficam expostos ao sol e a chuva. “É terrível! A gente só usa mesmo porque precisa. Quando eles colocam as grades e os vidros, os bandidos vão lá e roubam. Deve ser por isso que essas estações não oferecem conforto para nós, porque se colocarem algo novo vão roubar. Também acho pequena demais para a quantidade de usuários”, lamentou a promotora de vendas, Daniele Andréia.

A falta de estrutura é uma reclamação freqüente dos usuários, que pedem por um pouco mais de conforto. “A idéia de criar essas estações foi boa, o problema é que elas são desconfortáveis. Além de quentes, não possuem banquinhos para que a gente espere sentado os ônibus que tanto demoram”, disse o ourives Robério Castro.

Mas situação pior é a dos usuários da estação de transferência nº 5, que fica na avenida João Medeiros Filhos, na zona Norte. Há cerca de três meses, foi montada, na calçada do Hipermercado Atacadão, uma tenda que funciona como estação. O motivo é a reforma do equipamento, que inicialmente foi construído muito próximo à avenida e agora está sendo feito o recuo da estação.

“A obra está praticamente pronta e já deveria está inaugurada, o problema é que, recentemente, roubaram um dos vidros e a empresa só vai inaugurar quando estiver tudo pronto”, disse o agente Antônio dos Santos.

“Essa situação é péssima! Se ficar dentro da gaiola já era ruim, imagine ficar aqui debaixo dessa tenda, que não oferece nenhuma proteção”, disse a usuária Eliana Moura.